sábado, 7 de maio de 2011

8) HOMENS DE BARBA E O “ESTABLISHMENT”





Osama Bin Laden atacou o “establishment” mundial e por isso mereceu morrer. O fato é que muito sangue foi derramado na história da humanidade para chegarmos a esse almejado “establishment” mundial, cujas colunas mestras estão firmadas na democracia capitalista, na igualdade entre as pessoas, nos direitos humanos, na legalidade, no direito a ampla defesa e ao contraditório, na autonomia e independência dos poderes executivo, legislativo e judiciário, no direito de propriedade e na livre iniciativa e tantos outros direitos que são negados nos países cujos governos são autoritários, fundamentalistas e ditatoriais.

Muitas pessoas inocentes morreram sem qualquer oportunidade de defesa, tanto nos aviões utilizados para o ataque, quanto nos prédios das torres gêmeas. Todos que dependem desse “establishment” tem todos os motivos do mundo para comemorar a morte de Usāmah Bin Muhammad bin 'Awæd bin Lādin.

Se existe um povo que contribuiu na construção desse “establishment” foi o povo judeu, pois sofreu na pele as conseqüências de viver em pátria alheia durante séculos, sendo submetidos aos humores e decisões dos governos dos quais eram comensaleiros.

Há dois mil anos atrás, muito embora a realidade cultural e tecnológica eram outras, existia o Estado Romano, que dentro das devidas proporções, se assemelhavam ao Estado Americano da atualidade, pois, se a barbárie era uma regra geral, o Estado Romano já preservava determinados institutos legislativos e jurídicos que vigoram até os dias atuais, como é o caso da maioria dos institutos de direito civil.

Da mesma forma, os maiores parceiros políticos e comerciais do Estado Romano, era justamente o povo judeu, que na época viviam no mesmo pedaço de terra que vivem hoje, incluindo ai a saudosa Jerusalém.

De uma hora para outra surge um barbudo, que ao contrário do barbudo Bin Laden, ao invés de ataques terroristas, passa a disseminar ataques de idéias subversivas para a época. Em meio a uma sociedade medieval que não só admitia a escravidão, mas submissão da mulheres, apedrejamento e tantas atrocidades tidas como normais, aquele terroristas às avessas se dizia filho de Deus e ainda aconselhava as pessoas amar o próximo como a si mesmo, além de virar a face esquerda caso sofresse um ataque na direita.

As pregações de Jesus Cristo eram tão agressivas para os padrões da época que em apenas três anos passou a ser odiado por toda a gente, ao ponto de ser escolhido ao sacrifício no lugar de um ladrão e assassino. O problema é que aceitemos ou não, Jesus Cristo também colocou em risco o “establishment” da época, muito embora por motivação nobre e ética.

O ódio despertado foi de tal monta que o povo exigiu a crucificação do acusado, pena normalmente utilizada com efeito pedagógico, ou seja, servir como exemplo para que nenhum outro repita o mesmo “erro”.

Mal sabia os algozes que foi justamente a crucificação que coroou o cristianismo, a tal ponto que pouco mais de 100 anos após a crucificação, o Império Romano resolveu mudar de lado e tutelar o cristianismo através da instituição da religião católica, oficializando assim a religião estatal com suas liturgias que contribuiu ainda mais para eternizar Jesus.

A figura do homem barbudo sacrificado ficou tão estigmatizada que em meados do século XVIII, um jovem militar, sem barbas, mas com idéias igualmente revolucionárias, foi esquartejado e teve pedaços de seu corpo distribuídos nos pontos da cidade.

Como antes de ser morto ficou vários dias preso e sua barba cresceu, a figura do Tiradentes barbudo sacrificado ficou igualmente eternizada. Tiradentes da mesma forma atentou contra o “establishment” de toda a Europa, motivado pelos levantes libertários dos também colonizados norte-americanos.

Tanto a crucificação de Cristo como o esquartejamento de Tiradentes teve como pano de fundo satisfazer o anseio popular a fim de matar uma espécie de sede de justiça, mas que com o passar do tempo os tornaram mártir, pois o objetivo de ambos eram de libertar o povo de um jugo histórico vivido por força de governos autoritários, fundamentalistas e ditadores.

Já o senhor Usāmah Bin Muhammad bin 'Awæd bin Lādin foi justamente o contrário. Um verdadeiro anti herói que, utilizando-se do artifício mais covarde que a humanidade já conheceu que é o terrorismo, espalhou morte e sofrimento. Nesse sentido, foi acertada a decisão dos oficiais americanos jogarem o corpo de Bin Laden no mar, evitando assim que também virasse uma espécie de mártir, principalmente para uma facção dos mulçumanos, muito embora este fenômeno não esteja descartado.

Se a maioria da sociedade de cada época apoiou a morte de Cristo e de Tiradentes por colocar em risco seus “establishments”; muito embora fundamentados na tirania dos governos, imagine agora em que o barbudo dos tempos modernos primava em ser a antítese de tudo isso, se portando como um verdadeiro anti-cristo?

Nem quero saber se ele estava armado ou desarmado. Se foi morto por soldado americano ou por um segurança. Se teve oportunidade de defesa ou não. Aliás, que oportunidade de defesa tiveram a vítimas do WTC em 11 de setembro de 2001?

O fato é que existe um jogo de xadrez em andamento para a garantia do “establishment” mundial, sendo que as jogadas devem ser certeiras, sob pena de inviabilizar todo o tabuleiro da política econômica e jurídica vigente nos países livres e desenvolvidos. Para chegar no “checkmat”, não se deve perder nenhuma oportunidade de eliminar peões, cavalos, torres e até o rei. Que morram muitos outros Osamas Bin Laden.